Dengue do coccix até o pescoço


Um cara como eu que viveu o auge da Geração Coca Cola, ou seja, a geração pós beatnik e pós Flower Power, atravessou um mar de bebidas, drogas, cigarros, rock’n roll, acampamento, larica, luar, praia, festa de embalo, amanhecer, não tomar café e continuar até o anoitecer de novo e muito sexo casual. Sexo até que menos, pois nossa geração vivia mais de fama que de outra coisa. Porem, muita gente perdeu pra AIDS e pra overdoses.
Por isso, vinte anos depois de ter enterrado essa fase, qualquer sintoma de doença já assusta o tiozinho. Sábado de carnaval eu acordo com uma puta febre, dor no corpo, principalmente no abdômen, e outros sintomas indescritíveis. Pensei em gripe, pois vivo socado na minha casa que fica longe de qualquer mata. Pensei em dengue, mas os sintomas não batiam. Fiquei cinco dias tendo febre noturna e dor abdominal. A dor me pirou, pois pessoas da minha geração muitas vezes morrem de câncer na região reto-lortal.
Passou o carnaval e finalmente resolvo ir ao Hospital de Doenças Tropicais pra tirar duvidas, pois na minha cabeça eu estava com câncer terminal pelas dores abdominais que vinha sentindo. Fiz os exames, entrei no consultório médico e me deparo com uma jovem médica. Sento e vou mandando bala.
Que eu passei a vida usando coisas que matariam um cavalo, que já bebi e fumei mais coisas que qualquer gambá vivo. Mandrix, artene, coca, estricnina são drogas fracas. Que eu nunca dei o tôba, acho, mas o resto eu fiz de tudo. Que hoje sou um cara quieto, saio com meu amor pra biritar algumas coisinhas e rir com os amigos e fim de papo. Que só fumo quando bebo, etc, etc, etc.
A coitada da médica ficou me encarando com uma cara de medo, e só disse “senhor, o senhor tem somente dengue, que se curou sozinha porque o senhor deve ter bons anti corpos, portanto, não se assuste”. Quase soltei um grito de felicidade.
Sai gritando do consultório feliz “tenho dengue, tenho dengue, tenho dengue...!”
Devo ter ficado com fama de doido no hospital.

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