Manauara e o cabrito bom


“Cabrito bom não berra” é um termo usado por ladrões da periferia de Manaus, e provavelmente de origem nordestina. “Cabrito” significa produto de roubo e o fato de ele não berrar quer dizer que não haverá problemas com o crime. Que não haverá delação, que não ocorrerá problemas com a polícia, etc. O Manauara por ter sido governado muito tempo por uma elite que foi se sucedendo uma atrás da outra durante quase os quinhentos anos após a colonização européia, principalmente nos últimos vinte e cinco anos depois da abertura e da redemocratização do Brasil, onde uma elite política se empolerou no poder e corroeu todas as estruturas sociais instalando um governo onde a corrupção, a intimidação e a privação dos direitos dos cidadãos é uma pratica comum, tornou-se um cara passivo, (no bom sentido, claro) que raramente briga por seus direitos, ficou com fama de povo pacífico, amistoso e condescendente, tirado de otário na maioria das vezes. Assim vai se tornando um cabrito bom, que não berra, e é sistematicamente utilizado como massa de manobra. Um grupo português construiu o shopping Manauara em uma área verde imensa que continha árvores centenárias, uma das poucas que restavam na cidade, a revelia dos protestos de cidadãos conscientes e entidades preocupadas com a qualidade de vida da cidade. Depois do shopping construído, puseram um sinal de transito para travessia de pedestres usuários, travando o fluxo da Rua Recife, uma das poucas vias de trafego pesado da cidade, que é muito mal planejada. O certo seria construir uma passarela, já que esse grupo empresarial português é podre de rico. Decerto estam esperando que a prefeitura construa uma passarela pra eles com nosso dinheiro. A imprensa local, também cabrito bom que gosta mais de dinheiro que de capim, não reclama da lambança que virou aquela parte da cidade depois do semáforo inteligente que puseram ali. Claro, os anunciantes, as grandes empresas, estão todas com lojas no shopping. Eu como adepto do pedestrismo como modo filosófico de vida, eternamente despeitado com a boçalidade e tirania dos usuários de automóveis, senhores e donos das ruas, fico puto quando estou no busão embaixo de um calor de 40 graus, totalmente enlatado e engarrafado no transito, por conta da burrice e canalhice dos administradores da cidade. Foda é olhar pro lado e ver as pessoas passivamente vivenciando aquilo, sem reclamar, quase cozinhando embaixo da umidade e calor infernal que faz nessa região nessa época do ano. Cabrito assado de forno, silenciosamente servido ao molho de tucupi, com pimenta murupi, numa cuia grande pra poder dar de comer a solitária também. Talvez as solitárias reclamem, mas os cabritos não.

Comentários

kasmin disse…
oi jorginho, estou divulgando o blog de fotos do bar do armando, ainda não consegui fazer uma foto sua, mas vou continuar tentando...
http://bardoarmando.blogspot.com
MARNO MATTE disse…
É companheiro! Esperam mesmo o poder público fazer a parte maior e a que menos retorn dá. Essa história de cabrito bom já não é privilégio de vocês. Aqui no sul, melhor dizendo no Centro-Oeste a coisa não é diferente.. Só não chega aos 40 graus que vocês aguentam. Abraço.

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